Definitivamente uma agremiação de bravos, mas é uma lástima verificar-se nos arquivos históricos que os seus corações foram dominados pelas Ditas Duras em todos os cantos do planeta.
 
Sentido, ordinário marche; um, dois, três, cinco, seis, sete; ordinário descansar. Ouve-se o sussurrar dos coturnos. Prrrrá.
 
A corneta toca e o galo canta, são seis horas da manhã.
 
Fó fó fó; fó ró ró ró ró ró; fó ró ró, ró ró; fó ró ró ró ró; fó ró ró ró, fó fó; Cú cú rú cúuuuu.
 
Os jovens soldados rapidamente levantam, pois já vem vindo o sargento.
 
Enquanto isto, nos porões sujos da Dita Dura do Quartel, o Brigadeiro, o Tenente Coronel, o Almirante e o Jovem Aviador, aplicam uma surra de toalha molhada em dois periculosíssimos criminosos de guerra; o fotógrafo Hans Aufridezen e o tele-repórter Michail Pipocorov, que já haviam remexido em fotografias, derrubado fichários, fotocopiado a planta para campos de batalha da estratégia de combate First-in First-out, os estudos de um renomado cientista mecânico-aeronáutico-bélico-terráqueo de origem real e portuguesa Atrevido de Orleans que Bagunça, que projetou um tanque de guerra com capacidade para quatrocentos combatentes, uma comissária de bordo e um piloto, tendo também autonomia para vôos intercontinentais.
 
E finalmente a máxima descoberta reveladora; os books secretíssimos militares, com fotografias avassaladoras de crimes de guerra e que só eram apreciados, por oficiais de altíssimas patentes, em quartos escuros, na luz vermelha. Estes books por conterem fotografias secretíssimas de militares, inclusive de oficiais do conselho majoritário federativo militar e de cadetes, também ficavam guardados em armários com cadeados.
 
Contudo os impetuosos jornalistas que adentraram ao quartel, disfarçados de faxineiros militares terceirizados, conseguiram abrir todos os armários, destrancando os cadeados com uma lixa de unhas que encontraram no chão do quartel.
 
Ao observarem as fotografias ficaram embasbacados; autoridades militares que apareciam até em shows e programas de auditórios na televisão, participando ativamente ou pelo menos observando as seções de torturas hediondas militares, contra os inimigos sempre mais perigosos que os militares e incentivando os jovens recrutas a cometerem os mesmos crimes hediondos militares contra a humanidade.
 
Aufridezen e Pipocorov tentaram fugir, pulando a cerca militar, mas tropeçaram no balde militar de detergentes, alguns dos books caíram na lareira, que estava acesa pois um outro almirante, que não cometia crimes de tortura, estava recepcionando a recruta Benjamim para um coquetel de frutas.
 
Os dois redatores foram imediatamente conduzidos para a câmara de torturas militares, nos porões sujos da dita dura.
 
Quando Pipocorov e Aufridezen entraram na câmara de torturas hediondas militares, encontraram o Tenente Coronel e o Brigadeiro que veementemente advertiram o Soldado que estava descumprindo uma das principais normas da estratégia militar, sacramentada em carta máguina e avalizada e revisada por um conselho de juizes militares.
 
O senhor, Soldado, está com o coturno sujo; não sabe que aqui no quartel o senhor tem que andar com o coturno ensaboado. Isto pode lhe valer três dias na solitária.
 
Pipocorov interviu na celeuma militar, pedindo para que o Brigadeiro deixasse o Soldado ir, em paz. O Soldado bateu continência para o Brigadeiro e depois bateu para o Tenente Coronel e rapidamente foi embora com medo de sofrer mais alguma represália.
 
Aufridezen tomou a palavra e fez uma proposta de fuga para os dois militares. Senhores, em troca do nosso silêncio; por favor, observem as nossas carteiras do conselho de jornalistas, estão carimbadas, portanto não são falsas e isto é sinal que os senhores podem confiar na gente.
 
Queremos um jipe militar de guerra, duas espingardas baionetas calibradas, dois coturnos ensaboados e duas fardas de almirante para que possamos passar pela portaria.
 
Queremos também duas sacolas, sendo uma com trinta granadas de pólvora e a outra com quarenta granadas de gás lacrimogêneo, além de dois convites para o Show dos Rolling Stones; Tenente Coronel; vá! É imperdível!
 
Pois muito bem; para salvaguardar a soberania nacional em função da não revelação por parte dos senhores representantes da informação, dos segredos militares de guerra, eu aceito a proposta dos senhores.
 
Copeiro militar; providencie os equipamentos bélicos para os cavalheiros e traga champanhe.
 
Caros jornalistas; saibam os senhores que a presença de vossas senhorias aqui no quartel, não será mais tolerada.
 
Tenente Coronel; vamos chamar o Almirante para que possamos nos dirigir ao alojamento dos Cadetes para que possamos tranquiliza-los com a boa nova da não revelação dos segredos militares por parte dos jornalistas para o público em geral.

É noite no quartel, todas as patentes vão dormir!!    

Autor: Eduardo Gomes
Data: 26/06/2000