Poesias

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De um coração intenso para corações intensos: ( Marcos Adriano )

Você se sente estático no meio de uma multidão que corre. É essa a sensação, não é? Todo mundo parece seguir a vida, todo mundo parece indiferente, e você continua ali, plantado no mesmo lugar, sangrando em cores vivas enquanto o resto do mundo parece cinza e apressado. Existe uma solidez terrível em ser a única pessoa que se importa, a única que tenta consertar o que quebrou, a única que se recusa a deixar a peteca cair. Você se destaca não pela força, mas pela teimosia de acreditar que, se insistir mais um pouco, o outro vai finalmente acordar e ver o seu valor.
 
A gente tem essa mania de achar que a nossa resiliência é uma virtude infinita. Acreditamos que suportar o insuportável é prova de amor. “Eu aguento”, você diz para si mesmo(a). “Eu perdoo, porque quem ama perdoa”. E assim, você vai acumulando cicatrizes, transformando o seu coração num mapa de batalhas perdidas, esperando que, em algum momento, a medalha de honra chegue. Mas ela não chega. O que chega é o cansaço. O que chega é o desrespeito travestido de costume.
 
Foi num dia comum, olhando para o nada, sentindo aquele peso familiar no peito, que a ficha caiu com um barulho ensurdecedor. Eu finalmente entendi que quanto mais chances você dá a alguém, menos essa pessoa te valoriza, porque ela sabe que você sempre vai voltar.
 
É uma lógica perversa, mas humana. O ser humano não valoriza o que é garantido. Se você está sempre lá, imóvel, fiel, disponível, independente do quanto apanhe emocionalmente, você deixa de ser uma prioridade e vira mobília. Você vira parte do cenário. A pessoa para de olhar para você com admiração e passa a olhar com a certeza arrogante de posse. Ela sabe que pode errar feio, que pode sumir, que pode te tratar com frieza, porque no fim do dia, você estará lá, firme e forte, pronto(a) para aceitar as desculpas esfarrapadas de sempre.
 
Você se torna a rede de segurança dela. Enquanto ela se aventura, corre riscos e vive como se não devesse nada a ninguém, ela sabe que, se cair, o seu abraço estará lá para amortecer a queda. E isso não é amor, é conveniência. É triste admitir, mas a gente ensina os outros a nos tratarem mal. Cada vez que você aceita menos do que merece e diz “tudo bem”, você está assinando um contrato silencioso permitindo que aquilo se repita.
 
Eu cansei de ser o porto seguro de quem adora navegar em outros mares e só volta quando o barco fura. Cansei de ser a cor intensa no meio da vida cinza de alguém que não sabe apreciar a paisagem. O problema de dar mil chances é que você acaba dando, junto com elas, pedaços da sua dignidade. E chega uma hora que não sobra nada de você para contar a história.
 
A ruptura precisa acontecer. E não é sobre vingança, é sobre autopreservação. É sobre sair desse lugar estático, dar as costas para essa multidão de indiferença e caminhar no seu próprio ritmo, para longe de quem te faz sentir pequeno(a). É entender que a sua ausência é a única lição que algumas pessoas são capazes de aprender.
 
Mas confesso que, mesmo sabendo de tudo isso, mesmo com a razão gritando para eu ir embora e nunca mais olhar para trás, teve um momento, logo antes de fechar a porta definitivamente, em que eu hesitei. O coração deu aquela falhada, a mão tremeu na maçaneta e, por um segundo, um único e maldito segundo, eu quase voltei, porque lembrei exatamente de…
 
De um coração intenso para corações intensos,
Marcos Adriano

Autor: Eduardo Gomes
Data: 28/11/2025

 

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