O Manifesto da Consciência ( Oliver Harden )
Há em cada homem uma câmara escura onde a consciência, esse espelho cruel e silencioso, habita. Ela não fala, observa, não acusa, mas pesa, não julga com palavras, mas com o peso de um olhar que ninguém suporta. A consciência é o mais terrível dos deuses, porque não exige templos nem oferendas, exige apenas que o homem permaneça lúcido, e a lucidez é um suplício.
O homem moderno, saturado de distrações e amparado por máquinas que pensam por ele, foge desse tribunal interior com a obstinação dos culpados. Crê que pode dissolver o remorso em ruído, que pode enganar o abismo com luzes artificiais, que pode calar o seu demônio interior com as pequenas felicidades de um mundo anestesiado. Mas há um instante inevitável, e Dostoiévski o sabia, em que toda alma é chamada à solidão do seu próprio juízo.
Esse instante, terrível e redentor, é o nascimento da consciência. É quando o homem, despido de seus disfarces morais, encara a si mesmo como a própria vítima e o próprio carrasco. Ele percebe que não há inocentes, apenas diferentes graus de autoengano. Cada sorriso é um disfarce da culpa, cada virtude, uma forma refinada de vaidade. E a consciência, que tudo percebe, não o poupa nem por um segundo.
O manifesto da consciência é, portanto, um grito subterrâneo. Ele não se escreve com palavras, mas com o sangue das inquietações. É o protesto de algo em nós que ainda não se rendeu à mentira universal, que se recusa a dormir no conforto da ilusão coletiva. É a lembrança de que a alma, mesmo mergulhada na lama, ainda sonha com o céu, e que o inferno é justamente essa distância intransponível entre o que somos e o que deveríamos ser.
Dostoiévski teria dito que a consciência é o preço da liberdade, porque só é livre aquele que reconhece sua escravidão. O homem que ousa ouvir o sussurro da sua consciência deixa de ser um animal social e se torna um exilado do mundo, mas ganha o privilégio da verdade, ainda que esta o destrua.
Assim, o manifesto da consciência é o último testamento do espírito. Ele diz, “Não te esqueças de ti mesmo, ainda que o mundo te prometa a paz do esquecimento”. Pois é melhor uma alma atormentada pela verdade do que um corpo em paz na mentira. A consciência não consola, mas salva. Não acaricia, mas desperta. E, quando fala, é com a voz de um Deus que jamais se cala.
Autor: Eduardo Gomes Data: 25/10/2025
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