DA BÍBLIA aos BRASILEIROS
Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas,
e o perfume da tua boca como o das maçãs.
(Israel. 1010 a. C. – 931 a. C.)
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Estendida sobre o leito, Dóris, de róseas nádegas,
me fez imortal na sua carne em flor.
(Jordânia. 110 a. C. – 36 a. C.)
Para não veres meu emblema viril,
apartas a vista, como o pudor exige:
sem dúvida porque o que temes olhar,
anseias por recebe-lo em tuas entranhas.
(Itália. 88 a. C. – 54 a. C.)
Uni meus lábios aos doces lábios de Antígona
e a carne possuiu a carne. Do resto nada digo:
dele somente a lâmpada foi testemunha.
(Grécia. 63 a. C. – 14 d. C.)
Ficou em pé, sem roupa, ali diante dos meus olhos.
Em seu corpo não havia um só defeito.
Que ombros e que braços me foi dado ver, tocar!
(Itália. 43 a. C. – 18 d. C.)
A tua pica é tão grande quanto o teu nariz, Papilo,
Tanto que a podes cheirar quando rija.
(Espanha. 38 a. C. – 104 d. C.)
Ah, seus braços, seus olhos que me endoidecem,
ah, seu andar estudado, e os beijos de língua incomparáveis
(Itália. 27 a. C. – 14 d. C.)
E vós tomai, do não assaz caralho,
O animo pronto; baixai a vossa cona,
Enquanto enfio fundo o meu caralho.
(Turquia. 40 d. C. – 90 d. C.)
A carnadura das nádegas redondas palpitava,
mais ondulosa e mais fluída do que a água.
Louvo a bailarina da Ásia que com seus gestos lascivos
suavemente ondula desde a ponta dos dedos.
E comprimir-te e apalpar-te.
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
(Inglaterra. 1572 – 1671)
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.
Os culhões são bombardeiros
Palpava um Barnabita irmã Colette
Por trás do parlatório, em desajeito.
A freirinha queixou-se: Nem se mete
Assim. Melhor seria estar num leito.
O bom mineiro tão robusto
Que em negro buraco, sem susto,
Penetra e fura sem cansaço,
Até acabar-se, ficar lasso,
Gosto de moças, mas muito mais de rapazes:
Satisfaço o rapaz, e ele me serve de moça.
JOHANN WOLFGANG VON GOETHE
Quanta vergonha... Vai-te... Queres mais?
O que tiveste não te satisfaz?
Que esfregações, gemidos, desbaratos!
Que arremessos a seco, numa enfiada!
Sem pejo o homem que eu gosto sabe e confessa as delícias do sexo.
Encontrarás, sobre dois belos seios pontudos,
Dois grandes medalhões de bronze,
E sob o ventre liso, macio como veludo,
E essas nádegas ainda, lua de dois
Quartos, alegre e misteriosa, em que depois
Irei alojar os meus sonhos de poeta.
Sobe... – e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! – prossegue.
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios.
Franzida e obscura como um ilhós violeta,
Ela respira, humilde, entre a relva rociada
Inda do amor que desce a branda rampa das
Alvas nádegas até o coração da greta.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.
(Rio de Janeiro. 1865 – 1918)
“Estou com pressa”, diz. “Eu quero vaselina”.
Gentil, o boticário indaga do cliente
“Eu por mim recomendo sempre a boricada.”
E o cliente, a bufar: “Mas que papagaiada!
Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.
(Inglaterra. 1885 – 1930)
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Nem nas perninhas, aposto!
Lavadinho, todo nu, gosto!
ANTÓNIO BOTTO
(Portugal. 1897 – 1959)
Na boca ainda o sabor do outro homem
Ela é forçada a dar-me tesão viva
Com essa boca a rir para mim lasciva
Outro caralho ainda no frio abdómen!
BERTOLT BRECHT
(Alemanha. 1898 – 1956)
Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.
Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(Minas Gerais. 1902 – 1987)
sob os coqueiros elegantes, junto ao mar e à lua,
há uma vida contínua de calças e falinhas,
um rumor de meias de seda acariciadas,
e seios femininos a brilhar como dois olhos.
acariciarei e beijarei a nuca e a boca e mostrarei seu traseiro,
pernas erguidas e dobradas para receber,
caralho atormentado na escuridão, atacando,
levantado do buraco até a cabeça pulsante,
corpos entrelaçados nus e trêmulos,
coxas quentes e nádegas enfiadas uma na outra
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
É cabeluda, e cabe, linda,
Segundo especialistas, a chupeta
depende da atitude do chupado:
se o pau recebe tudo, acomodado,
ou fode a boca feito uma boceta.
em peles suadas campos de dálias.
“O Erotismo” (L&PM, 1987), de Georges Bataille; “O Erotismo” (Rocco, 1988), de Francesco Alberoni; “Erotismo e Poesia: dos Gregos aos Surrealistas” (Companhia das Letras, 1990), seleção de José Paulo Paes; e “Antologia da Poesia Erótica Brasileira” (Ateliê Editorial, 2015), de Eliane Robert de Moraes.