Poesias

GILKA MACHADO            

Odor dos Manacás

(A J. M. Goulart de Andrade)
 
De onde vem esta voz, este fundo lamento
com vagas vibrações de violino em surdina?
De onde vem,esta voz que, nas azas, o Vento
me traz, na hora violacea em que o dia declina?
 
Esta voz vegetal, que o meu olfacto attento
ouve, certo é a expansão de uma magua ferina,
é o odor que os manacás soltam, num desalento,
sempre que a brisa os plange e as frondes lhes inclina.
 
Creio, aspirando-o, ouvir, numa metempsychose,
a alma errante e infeliz de uma extincta creatura
chamar anciosamente outra alma que a despose...
 
Uma alma que viveu sosinha e incomprehendida,
mas que, mesmo gosando uma vida mais pura,
inda chora a illusão frustrada noutra vida.
 
- Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

Autor: Eduardo Gomes
Data: 21/02/0000


 
 

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