(A J. M. Goulart de Andrade)
De onde vem esta voz, este fundo lamento
com vagas vibrações de violino em surdina?
De onde vem,esta voz que, nas azas, o Vento
me traz, na hora violacea em que o dia declina?
Esta voz vegetal, que o meu olfacto attento
ouve, certo é a expansão de uma magua ferina,
é o odor que os manacás soltam, num desalento,
sempre que a brisa os plange e as frondes lhes inclina.
Creio, aspirando-o, ouvir, numa metempsychose,
a alma errante e infeliz de uma extincta creatura
chamar anciosamente outra alma que a despose...
Uma alma que viveu sosinha e incomprehendida,
mas que, mesmo gosando uma vida mais pura,
inda chora a illusão frustrada noutra vida.
- Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)