Time Sharing Division!!!
A divisão do tempo compartilhado!!!
Tempo, tu que és a única forma divina, é contigo que agora me reporto, e como se pudesse, exijo, transar contigo a ferramenta do diálogo.
Tempo, só tu sobrevives ao tempo, mas como diziam os verdadeiros titãs, “o pulso ainda pulsa”.
A língua ainda coça, a raça ainda é frivolamente forte, o corpo ainda é obra de arte.
Sim tua ó tempo, sim tua.
Porque insistes em me perseguir, tic tac, por onde quer que eu vá, você lá está, tic tac, lembrando-me que não vou te seguir, tic nervoso tac, tic nervoso tac.
Não, por ti, não é brincadeira! Quem eu sou? De onde vim? Vou a algum lugar? Porque estou aqui? Existe algum sentido?
Tudo isso em vão! Como sobreviver ao tempo? Em verdade vos digo, nada restará, só o tempo!
Caetano disse, ”tempo, tempo, tempoo; não serei, nem terás sido”.
Nietzsche sepultou de vez as minhas santas ilusões com o seu pequenino e grandioso escrito, ”O Ocaso do Pensamento”.
Se do tempo, o que nos resta é uma parte, porque nos deste tempo e faculdade para entender os teus sádicos mecanismos.
Não por deus, devolva-me a inocência e a ignorância de uma vida contemplativa e completamente feliz.
Quero caçar, quero colher, quero reproduzir, feliz e radiante com todo o tempo do universo.
Quero dormir sem saber que não irei mais acordar, quero viver sem te contar, ó tempo desintegrador de matéria.
És um rolo compressor e a tudo impiedosamente destróis, com valor ou sem valor, com caráter ou sem caráter, tudo de ti recebe o mesmo decrepito destino.
Não tens nenhum senso de moral, és completamente antiético e em tua personalidade gélida, não consegues enxergar a menor porção do que é virtude.
Fazes da desgraçada morte, um mecanismo zilhões de vezes mais forte do que a valorosa vida.
Não quer que te odeie, pois saibas Senhor, que eu te amo e te odeio, carrasco de todas as ilusões perdidas, executor de todas as eras, caçador implacável, demolidor de todos os sonhos inocentes.
Sim ria dos meus gritos, só tu podes a eles ridicularizar, beba, mate, se encha do meu sangue.
Brinque neste teu sarcástico jogo de vida e morte, com mais este peão material do destino.
Mas não passe pelas minhas costas, não ouse passar a minha frente, senão eu também te pegarei.
Autor: Eduardo Gomes Data: 26/06/1999
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