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OLIVER HARDEN       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

O Inefável: O Que Não se Pode Explicar aos Normais ( Oliver Harden )

Existe, nas profundezas da mente humana, um reino vasto e inexplorado, onde habitam os pensamentos mais sublimes e as angústias mais profundas. É um território que escapa à compreensão comum, um espaço onde a linguagem falha e os conceitos se desvanecem. Este é o domínio do inefável, do que não se pode explicar aos normais. Aqui, a racionalidade se dobra sob o peso da intuição, e a lógica se dissolve nas águas turvas da emoção e da experiência subjetiva.
A mente humana é um labirinto de complexidades, onde cada pensamento, cada sentimento, é um fio entrelaçado em um emaranhado de significados. Para aqueles que se movem além da superfície das coisas, que se aventuram nos becos escuros da introspecção, a realidade assume uma plasticidade que não pode ser capturada pelas palavras comuns. Tentamos, em vão, explicar aos normais a sensação de ser simultaneamente um e muitos, de estar presente e ausente, de ser um ser finito com vislumbres do infinito.
A filosofia de Søren Kierkegaard nos oferece uma pista sobre essa condição. Ele fala da "angústia" como uma experiência existencial, uma sensação de vertigem diante das infinitas possibilidades da existência. Esta angústia, que para muitos é um fardo insuportável, é para outros uma janela para a profundidade do ser. Como explicar aos normais que essa angústia é, na verdade, uma forma de liberdade, um convite para explorar o abismo de nossa própria alma?
A subjetividade é a marca distintiva da experiência humana, e é na subjetividade que encontramos o que não se pode explicar aos normais. Cada indivíduo é um universo em si, com constelações únicas de pensamentos, sentimentos e percepções. A psicologia de Carl Jung nos ensina que cada pessoa é composta por uma miríade de arquétipos, forças internas que moldam nossa percepção e comportamento. Como explicar a alguém que nunca explorou seus próprios recessos internos o poder desses arquétipos, a dança incessante entre a sombra e a luz que define nossa psique?
A poesia de Rainer Maria Rilke captura essa subjetividade com uma precisão que desafia a prosa. Ele escreve sobre a "vida interior" como um espaço sagrado, um lugar onde o indivíduo pode encontrar a verdadeira essência de seu ser. Esta vida interior, rica e multifacetada, é inacessível àqueles que vivem apenas na superfície das coisas. Como explicar aos normais a beleza e a dor de uma existência vivida em profundidade, onde cada emoção é uma maré que nos arrasta para mundos desconhecidos?
Há uma incomunicabilidade inerente ao inefável, uma barreira que separa aqueles que veem além do véu da realidade cotidiana daqueles que se contentam com o óbvio. Esta barreira não é apenas uma questão de linguagem, mas de percepção e entendimento. O filósofo Ludwig Wittgenstein argumenta que "os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo." O que não se pode explicar aos normais reside além desses limites, em um território onde a linguagem se quebra e a compreensão comum se dissolve.
Os poetas e místicos de todas as épocas têm tentado, através de metáforas e símbolos, apontar para esse reino inefável. Rumi, o poeta sufi, fala sobre o "jardim secreto" do coração, um lugar onde a verdade transcende as palavras. Como explicar aos normais a existência desse jardim, onde a lógica é substituída pela intuição e a razão pela experiência direta?
Viver com a consciência do inefável é, muitas vezes, uma experiência solitária. Aqueles que percebem além do comum carregam um fardo invisível, uma sensação de estar desconectado do mundo normativo. Esta solidão, no entanto, é também uma fonte de força e beleza. É na solidão que encontramos a verdadeira companhia de nós mesmos, que exploramos as profundezas de nossa alma e descobrimos as verdades que não podem ser compartilhadas.
A solidão do incompreendido é uma bênção disfarçada, uma oportunidade de crescer e evoluir em direção à autenticidade. Como explicar aos normais que essa solidão é, na verdade, uma forma de comunhão com o universo, um estado de ser que nos conecta ao todo de uma maneira que as relações superficiais nunca poderiam?
O que não se pode explicar aos normais é uma vastidão de experiências e percepções que desafiam a compreensão comum. É um reino onde a linguagem falha, onde a lógica se dissolve e onde a subjetividade reina suprema. É um convite para explorar as profundezas da existência, para abraçar a complexidade e a ambiguidade que definem a verdadeira experiência humana. Aqueles que se aventuram nesse território inefável encontram uma riqueza de significado que transcende o mundano, uma clareza que só pode ser alcançada ao se confrontar com as próprias sombras e luzes.
Os artistas, poetas e pensadores são os arautos do inefável, aqueles que, através de suas criações, tentam transmitir fragmentos desse reino além das palavras. Oscar Wilde, com seu estilo esteticamente refinado e paradoxal, capturou a essência de uma verdade que não pode ser dita diretamente, mas apenas intuída. Sua afirmação de que "a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida" é uma revelação sobre a natureza da realidade e da percepção, uma indicação de que a verdade profunda reside nas interpretações e não na superfície dos fatos.
Vivemos em uma era que frequentemente busca a certeza, a segurança e a previsibilidade. No entanto, é na incerteza que reside a verdadeira beleza da vida. A incerteza nos abre para a possibilidade, para a criatividade e para a transformação. Como explicar aos normais que a incerteza não é algo a ser temido, mas a ser abraçado como uma oportunidade para o crescimento e a descoberta?
A filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir nos ensina que a liberdade humana está intrinsecamente ligada à incerteza. Eles argumentam que é na ausência de certezas absolutas que encontramos a liberdade para criar nossos próprios significados e valores. Esta liberdade, com toda a sua responsabilidade e angústia, é uma dádiva que permite ao ser humano transcender suas limitações e alcançar uma autenticidade profunda.
O inefável é também o reino do paradoxo, onde opostos coexistem e se complementam. A vida humana é uma dança constante entre alegria e tristeza, esperança e desespero, amor e perda. Como explicar aos normais que é precisamente nessa tensão entre opostos que encontramos a plenitude da experiência?
O poeta persa Rumi escreve: "A ferida é o lugar por onde a luz entra em você." Este paradoxo encapsula a profundidade da condição humana, onde a dor pode se transformar em sabedoria e a vulnerabilidade em força. A aceitação do paradoxo é um caminho para a compreensão profunda, uma maneira de viver que abraça a totalidade da experiência em vez de buscar a simplicidade enganosa.
E assim, aqueles que habitam o reino do inefável se movem através da vida com uma consciência que transcende o comum. Eles são os navegadores das profundezas, os exploradores das verdades não ditas, os guardiões de uma sabedoria que não pode ser plenamente compartilhada. O que não se pode explicar aos normais é, em última análise, uma jornada pessoal, uma busca incessante pelo significado em um mundo cheio de mistérios e maravilhas.
Aqueles que aceitam este convite para explorar o inefável encontram, em sua solitude e complexidade, uma forma de beleza que transcende as palavras. Eles aprendem a ver com novos olhos, a encontrar o extraordinário no ordinário e a dançar com os paradoxos da vida. E talvez, ao fazer isso, eles não apenas compreendam mais sobre si mesmos, mas também iluminem o caminho para aqueles que estão dispostos a olhar além da superfície e a mergulhar nas profundezas do ser.
Oliver Harden

Autor: Eduardo Gomes
Data: 31/07/2025

 

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