Você não me enxerga
Mas eu vejo e sinto
O seu claro descaso.
Certamente, para você
Isso não vem ao caso,
Mesmo, porque,
Para você eu não existo.
Mas, eu estou aqui,
E em toda parte
Ocupando os pequenos espaços
Que, por seu descuido,
É o mundo que me resta.
E, quando eu surjo,
Você só me vê como algo sujo
A ser marginalizado,
A ser demonizado,
A ser criminalizado,
A ser condenado
A não ser,
A não existir,
A não ter motivos para sorrir,
A só ter motivos para morrer.
Entretanto(s), eu insisto
Em fazer valer
O meu direito de ser,
De ser o que eu quiser,
Descer e subir, se eu quiser.
Dizer tudo e não me calar
E não me deixar sufocar
Pelo descaso reinante
Em seu modo de atuar,
Em sua maneira de me aturar.
Eu sou a sua sombra
Mas você finge não me ver
E, se me vê, segue pisoteando.
Eu sou o seu pútrido hálito
Mas o seu hábito
É não me exalar.
Eu sou o seu cheiro
Que banho algum
Irá dissipar.
Eu sou a sua culpa
Que nenhuma desculpa
Poderá aliviar.