Poesias

OLIVER HARDEN       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

A Magia dos Acasos Perdida nos Tempos de Sombra ( Oliver Harden )

Houve um tempo em que a existência se desdobrava ao sabor dos acasos, e o inesperado era não apenas uma contingência da vida, mas seu próprio fulcro. Os dias se encadeavam como uma tapeçaria tecida por mãos invisíveis, onde a incerteza não era um fardo, mas um sopro vital, um elemento que conferia à experiência humana sua pulsação genuína.
Entretanto, os tempos sombrios em que nos encontramos parecem ter erigido a previsibilidade como um dogma absoluto, sufocando qualquer possibilidade de desvio, de ruptura, de surpresa. O mundo moderno, na ânsia de domesticar o incerto, reduziu a existência a uma engrenagem monótona, onde cada peça se encaixa num esquema rígido e pré-determinado. Assim, a magia do imprevisto se dissipa, e o ser humano, outrora errante e destemido, se enclausura numa rotina exangue, incapaz de acolher o acaso com o assombro que ele merece.
Mas o que ocorre quando essa vicissitude se infiltra em nossos pensamentos, quando o insólito visita as fronteiras de nossa consciência? Eis que nos deparamos com um paradoxo: ansiamos por um universo ordenado, mas, diante do inesperado, nos damos conta de nossa própria indigência expressiva. O epigrama silencia, as palavras vacilam, e a mente se descobre cativa de suas limitações. O instante efêmero, ao invés de ser celebrado, é desperdiçado na hesitação, pois fomos condicionados a temer aquilo que não controlamos.
E quando, por ventura, o acaso rompe a previsibilidade do cotidiano? O que se vê, infelizmente, é a prevalência da pusilanimidade. A sociedade moderna, impregnada por um medo difuso e onipresente, rechaça o desconhecido como se este fosse uma ameaça à sua frágil estabilidade. Temer o risco tornou-se a norma, e com isso nos furtamos às experiências que poderiam expandir nosso espírito, relegando ao esquecimento as oportunidades que apenas o imprevisível pode nos proporcionar.
Vive-se, pois, em tempos de impudente monotonia, onde a coragem cede lugar à inércia e a conformidade se ergue como uma prisão invisível, mas implacável. Contudo, o que é a conformidade senão uma forma de servidão autoimposta? Se há uma necessidade urgente em nossa época, é a de subverter essa letargia, romper os grilhões do previsível e resgatar o assombro que outrora nos permitia habitar o desconhecido sem receios.
Urge que nos entreguemos novamente ao fluxo indomável da existência, que recusemos a estagnação em favor da errância, que voltemos a nos lançar ao imponderável com a coragem daqueles que compreendem que a verdadeira liberdade não está na segurança, mas na aceitação do imprevisível. Seja qual for a insanidade que o medo nos incita a praticar, lembremo-nos de que o risco é o preço da descoberta e que a grandeza da vida reside naquilo que escapa ao nosso controle.
Que o improvável, então, ilumine os caminhos obscurecidos pela mesmice e que a magia dos acasos, tão negligenciada, possa enfim retornar para reivindicar seu lugar no mundo.
Oliver Harden

Autor: Eduardo Gomes
Data: 17/02/2025

 

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