Poesias

OLIVER HARDEN       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

A literatura contemporânea - crítica ( Oliver Harden )

O embate entre a literatura e o espírito do tempo sempre foi inevitável, mas nunca a disparidade entre profundidade e superficialidade foi tão acentuada quanto na contemporaneidade. A era digital, marcada pela instantaneidade e pelo consumo fugaz de informações fragmentadas, moldou uma mentalidade que rejeita o esforço interpretativo e a complexidade do pensamento em favor de estímulos rápidos e descartáveis. O TikTok e o WhatsApp, como emblemas desse novo paradigma, instauraram um modelo cognitivo avesso à reflexão, onde a leitura se converte em um exercício árduo e indesejado, substituído por narrativas efêmeras e imagens de impacto imediato.
O fenômeno é preocupante, pois não se trata apenas da resistência dos alunos à literatura, mas de uma alteração estrutural na forma como o conhecimento é assimilado. O prazer da leitura, que exige concentração e imersão, é subjugado pela busca incessante por gratificação instantânea. O texto literário, com suas camadas de significação, suas ambiguidades e suas metáforas, torna-se, para muitos, um enigma indecifrável, um anacronismo num mundo onde a profundidade foi convertida em ruído.
Dessa forma, o professor de literatura se vê diante de um desafio titânico: conduzir mentes imersas na liquidez do presente a um espaço de densidade intelectual, onde a palavra não é mero veículo de informação, mas instrumento de transcendência. No entanto, o embate não é apenas metodológico, mas ontológico. Como ensinar a saborear a lentidão e a beleza do pensamento elaborado a uma geração habituada à velocidade e à dispersão? Como restaurar o assombro diante da grandeza de um poema quando o que se busca são mensagens de consumo imediato, destinadas ao esquecimento?
A resistência ao literário, à erudição e ao pensamento complexo não é apenas um reflexo da preguiça intelectual, mas uma consequência de um sistema que, ao valorizar a aceleração do consumo de dados, desencoraja a contemplação. Poucos ainda se aventuram na vastidão de um romance ou na densidade de um ensaio filosófico. O que sobra é uma leitura superficial, incapaz de captar os matizes da linguagem e os labirintos da narrativa.
Eis, então, a tarefa do educador: desafiar essa inércia, instigar o desconforto intelectual, despertar a inquietação que conduz ao saber autêntico. Pois, se há algo que a literatura nos ensina, é que o pensamento exige esforço, e que a compreensão verdadeira é uma conquista, jamais uma concessão. Que os poucos que ainda se permitem esse mergulho tornem-se faróis em meio à névoa, preservando, contra a corrente, o valor do que é profundo e imperecível.
 
Texto de Oliver Harden...

Autor: Eduardo Gomes
Data: 17/02/2025

 

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