Os versos mais impactantes do século XX
Troque o seu cachorro por uma criança pobre!!! ( Eduardo Duzek )
Felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor, brilha tranquila, depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor... ( Vinícius de Moraes )
Teu corpo curvilíneo é o meu templo! Preciso orar em ti, preciso receber de ti os louros da paixão... Quero te tocar para sempre, quero te encravar como Tridente, nos músculos do meu Coração... ( Eduardo Gomes )
Quero ser sempre um Oasis em tua solidão!!! ( Adrianna Mezzadri )
Versos de Amor
A um poeta erótico
Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Marsias — o inventor da flauta —
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!
Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d’alma!
Poema de Augusto dos Anjos
Versos Íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Soneto de Augusto dos Anjos
O Veneno (Baudelaire)
Sabe o vinho vestir o ambiente mais espúrio
Com seu luxo prodigioso,
E engendra mais de um pórtico miraculoso
No ouro de um vapor purpúreo,
Como um sol que se põe no ocaso nebuloso.
O ópio dilata o que contornos não tem mais,
Aprofunda o ilimitado,
Alonga o tempo, escava a volúpia e o pecado,
E de prazeres sensuais
Enche a alma para além do que conter lhe é dado.
Mas nada disso vale o veneno que escorre
De teu verde olhar perverso,
Laguna onde minha alma se mira ao inverso...
E meu sonho logo acorre
Para saciar-se nesse abismo em fel imerso.
Nada disso se iguala ao prodígio sombrio
Da tua saliva forte,
Que a alma me impele ao esquecimento num transporte,
E, carreando o desvario,
Desfalecida a arrasta até os umbrais da morte!
Poema de Charles Pierre Baudelaire
O Andarilho (Nietzsche)
“Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a Terra e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Mas ele observará e terá olhos abertos para tudo quanto realmente sucede no mundo; por isso não pode atrelar o coração com muita firmeza a nada em particular; nele deve existir algo de errante, que tenha alegria na mudança e na passagem. Sem dúvida esse homem conhecerá noites ruins, em que estará cansado e encontrará fechado o portão da cidade que lhe deveria oferecer repouso; além disso, talvez o deserto, como no Oriente, chegue até o portão, animais de rapina uivem ao longe e também perto, um vento forte se levante, bandidos lhe roubem os animais de carga. Sentirá então cair a noite terrível, como um segundo deserto sobre o deserto, e o seu coração se cansará de andar. Quando surgir então para ele o sol matinal, ardente como uma divindade da ira, quando para ele se abrir a cidade, verá talvez, nos rostos que nela vivem, ainda mais deserto, sujeira, ilusão, insegurança do que no outro lado do portão e o dia será quase pior do que a noite. Isso bem pode acontecer ao andarilho; mas depois virão, como recompensa, as venturosas manhãs de outras paragens e outros dias, quando já no alvorecer verá, na neblina dos montes, os bandos de musas passarem dançando ao seu lado, quando mais tarde, no equilíbrio de sua alma matutina, em quieto passeio entre as árvores, das copas e das folhagens lhe cairão somente coisas boas e claras, presentes daqueles espíritos livres que estão em casa na montanha, na floresta, na solidão, e que, como ele, em sua maneira ora feliz ora meditativa, são andarilhos e filósofos. Nascidos dos mistérios da alvorada, eles ponderam como é possível que o dia, entre o décimo e o décimo segundo toque do sino, tenha um semblante assim puro, assim tão luminoso, tão sereno-transfigurado: – eles buscam a filosofia da manhã.”
Texto de Nietzsche!!!
O Ocaso do Pensamento! ( Nietzsche )
Em um recanto qualquer do Universo, semeado de sistemas solares a rebrilhar, houve uma vez um astro, no qual animais inteligentes inventaram o conhecimento.
Foi o minuto mais arrogante e mentiroso da história universal.
Mas foi um minuto único.
Após alguns haustos da Natureza, o astro petrificou-se e os animais inteligentes morreram.
Assim poderia alguém, escrever uma fábula, e nem com isso ilustraria suficientemente como é lamentável, obscuro e fugaz e como é inútil e arbitrário o intelecto humano dentro da Natureza.
Houve eternidades, em que não existia; e, quando tiver passado, nada terá existido.
É que não havia para esse intelecto qualquer outra missão que fosse além da vida humana.
Ele é humano; e só o seu possuidor e produtor leva-o tão a sério, como se o mundo girasse em torno dele.
Texto de Friedrich Wilhelm Nietzsche, século XIX
Shirlene Conceição!!!
Perdão pequena flor! Perdão!!!
Por ti, em prantos, choro todas as minhas mágoas!
Por ti pequenina menina, que dos pobres pais, ao nascer, fostes abandonada.
Órfã! Sozinha, neste mundo cruel! Sem Deus! Só cruz! Crucifico-me!
E condeno-me a derramar todas as lágrimas; arrependido, envergonhado, não pelo ato, mas pela omissão!?
Que do anjo ao ouvir o pedido!? Que da santa, que me sussurrou aos ouvidos, meu senhor, meu bom homem,
Tu que tivestes das sortes a maior, tu que vives com teus pais ao redor, sorte de amar e ser amado,
Sensibiliza-te por Shirlene Conceição, a três anos a pequenina florzinha do Cerrado!?
Vá lá, meu bom homem!? Vá lá!?
Rua das quintas, sem número, um sobrado!
Mil crianças no chão, coração esfacelado; Shirlene Conceição não é a flor do pecado!!!
Dá lá, meu doutor, seu recado, acaricia a florzinha do sobrado!?
E regai por amor seu jarrinho, dez tostões construirão este ninho, dez tostões não serão o teu fardo!?
Sim eu vou, sim eu vou. Eu não fui!? Ai que dor! Ai que dor! Como é ruim!
De amar e amar, ser amado!?
Rejeitar, rejeitar do sobrado, a santinha florzinha do Cerrado!?
Meu senhor! Minha senhora! Não descarto; a detestável omissão do meu ato!
De ao menos, por mês, por um pacto, me entregar à este amor no orfanato,
De enxertar com tostões um bom prato.
E agora, no meio desta natureza morta, deste mato, desta selva de pedra, hiato,
Não consigo cruzar meu retrato!!!
E a cada dia, criança sofrida, te procuro neste mundo abstrato!?
Pois te encontrar vai sarar a ferida, desta outra criança sofrida!?
Encontrar-te pra botar no porta-retratos, ó querida;
a minha face ó criança esquecida, a beijar-te pra sempre, que ato!
E de fato selar nossas vidas, com carinho, muito amor e um bom prato!!!
Autor: Eduardo Gomes
Data: 30/03/2000
Rosa Bruta!!!
Tocar-te, é ferir-se!
Sentir-te, o perfume, é aprisionar-se!
Fitar-te, é petrificar-se!
Provar-te os beijos, é saborear o néctar e a cicuta que escorrem por entre os teus lábios e por fim adormecer-se!
Saciar-te, é padecer de eterna fome!
Escutar-te, é confundir-se!
Acreditar-te, é lamentar-se!
Ó bruta flor de beleza, tentei, mas foi impossível remover os teus espinhos, que tanto me magoaram, que quanto me agrediram!
As tuas raízes já não tocavam mais a terra!!!
Mas da desventura me desgarrei!
Fugi dos porões do teu navio mercante, com as costas rubras!
E precisei de tempo, de muito tempo, para sarar as sangrias do meu coração!
Conhecer-te, foi uma armadilha do destino?
Amar-te, foi a jovial inocência do meu ser!
Deixar-te, foi um sábio privilégio!
Mas que mais do que por encanto, enfim deste tortuoso amor, nasceu uma rosa terna, meiga, carinhosa e gentil,
Uma rosa de puro amor; uma rosa de beleza inconfundível e perfume incomparável, arraigada à terra, enraizada no meu coração.
E é por ela, ó Rosa Bruta sofrida, que ainda toco em teus espinhos, que ainda ouço a tua voz.
E te trato agora, por rosa mãe do amor!
Autor: Eduardo Gomes
Data: 19/06/2001
O Convite (Oriah Mountain Dreamer)
Não me interessa saber como você ganha a vida. Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração.
Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor.
Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la. Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até aponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.
Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte da sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: “Sim!”
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo sem recuar.
Não me interessa onde, o que ou com quem estudou. Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia.
Poema O Convite de Oriah Mountain Dreamer
Autor: Eduardo Gomes Data: 02/08/2024
|