Desperto ( Frantz Fanon )
''Desperto um belo dia no mundo e me atribuo um único direito: exigir do outro um comportamento humano. Um único dever: o de nunca, através de minhas opções, renegar minha liberdade.
Tudo pode ser explicado às pessoas, na única condição que se quer que elas entendam. O despreparo das classes educadas, a falta de vínculos práticos entre elas e a massa do povo, sua preguiça e, talvez, sua covardia no momento decisivo da luta, darão origem a percalços trágicos. Os oprimidos sempre acreditarão no pior em si mesmos.
O imperialismo deixa para trás germes de podridão que devem ser detectados clinicamente e removidos não só da terra, mas também das mentes. Para um povo colonizado, o valor mais essencial, porque é o mais concreto, é a terra: a terra que lhes trará pão e, acima de tudo, dignidade.
Quando se revolta, não é contra uma cultura particular. As pessoas se revoltam simplesmente porque, por muitas razões, não podem mais respirar. Falar uma língua é assumir um mundo, uma cultura. A expressão viva da nação é a consciência coletiva em uma cultura. A expressão viva da nação é a consciência coletiva em movimento de todo o povo. Cada geração deve descobrir sua missão, cumpri-la ou traí-la, com relativa opacidade. É possível acreditar no amor. É por isso que cada um deve se esforçar para traçar suas imperfeições, suas perversões. Ó corpo, faça de cada pessoa sempre um sujeito que questione!''.
[Frantz Fanon (1925-1961) - psiquiatra, filósofo e ensaísta francês da Martinica]
Autor: Eduardo Gomes Data: 26/08/2020
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