Poesias

TEXTOS D TERCEIROS 02       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

POEMA ― INÚMERO ( Ruy Espinheira Filho )

Para Jayro José Xavier
I
Junho desliza azul para o inverno,
onde a memória desperta, cálida de gestos
de outro tempo,
que hoje continuam como
então. Imóveis em cada instante do
movimento
e no entanto cumprindo o mesmo
vôo
em meu espaço, nítidos
como este azul sobre mim.
Onde a memória desperta
e que também é memória.
Tudo é memória, como a onda
que vamos visitar, e já nos habita
antes dos nossos pés na areia da prata,
porque é outra onda,
outras
que já marulham,
espumam
em nosso sangue,
como o inverno para o qual desliza
esta tarde
é denso de outro, outros.
Assim o teu sorriso que virá
já há muito me ilumina.
ll
Deslizo com a tarde
para o inverno. A terra úmida
libera o hálito do
Dilúvio. E eu caminho
pela rua nevoenta,
viagem no interior
de uma viagem, que é
no corpo, no rio de outra
viagem, que...
E na origem
da luz talvez não haja
senão a ausência da estrela.
Caminho na rua antiga,
mas agora. E sou um menino
contendo um homem que contém
um menino.
Qual das minhas
mãos colheu a romã?
qual
crispou-se violenta?
qual
pousou suavemente
em tua mão?
Em vão interrogo, a meu respeito
a fonte
da infância
(mas da infância
da memória, que repara
as injustiças --- como
a pretérita ausência
de uma fonte).
Porém uma fonte
é apenas seu murmúrio. Assim
o Universo. Murmúrio só,
sem respostas (por isso
de sua costela o homem
arrancou Deus: para se consolar
desesperadamente).
III
Junho foge para
o inverno, e é inúmero.
Como
Amanhã, ou ontem.
Como
tudo.
Imergimo-nos
mutuamente, recíprocos.
E fluímos
(por exemplo) até
Essa rua de que há pouco
Falávamos. Onde
caminho, caminhamos, à garoa
e ao vento, entre os gestos
cálidos
desse tempo. Eternos
como junho e essa rua e esse
caminhar. Como
tudo. E nada.

Autor: Eduardo Gomes
Data: 24/07/2020

 

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