Partículas Elementares
Amor:
“Filho de ciganos, jamais conhece a lei!”.
Filho da admiração, do que se vê, ouve e sente...
Fomenta a fome do seu objeto desejado, para sarar o vazio que arde no peito, estancando nossa terrível solidão, ilhas que somos.
Dor:
Ai de mim se eu pudesse nest’hora...
Remover do passado, tantas porradas, feridas e cicatrizes...
Por que, as sentimos tão intensamente? Talvez sem motivo aparente...
Que merda é esta que sufoca a gente, comprimindo nosso peito feito rolo compressor?
Por que nos deixa tão dementes ao menor sinal de rejeição?
Como dói no peito não te ter amor!
Como dói não te ver, possuir, tocar, sentir!
Sentindo que sinto por ti o que por mim não sentes...
Compreendendo que fazes parte da minha vida, mas não faço da tua...
Solidão:
Como é maldita a nossa condição!
Que neste corpo habita, só!
Sem contato, afeto, toque posto que tal comunhão espiritual é impossível, ilhas que somos!
Jamais existindo encontros espirituais, apenas contatos carnais que logo cessam...
Quero dividir com o mundo o que sou mesmo sabendo ser impossível revelar-se intimamente...
Quero compreender todos, mas nada enxergo!
Posto que todos somos herméticos, singulares, centrados e concentrados em si!
E nossas almas esqueléticas, raquítificadas pela fome de comunhão, sofrem caladas no exílio e sorriem com dor nos corações...
Ódio:
Sinto por ti o que por mim não sentes,
Vejo uma faca um punhal pungente,
Enveredar-se no seu peito digno...
Toco-te com o carinho maior do mundo tu que para mim és muito mais do que a mais pura rejeição.
Não suporto esta porrada que me sufoca por dentro, calando-me o sim e o não...
Arde no peito a dor de amar e de não ser amado, provocando ódio e ressentimento...
Tentar repartir o calor e sentir o frio da indiferença...
Compreender e ser incompreendido!
Porque só, no martírio da solidão, ter sido velado, deserto, longe e perto do nada...
E tentar, mesmo assim, concertar o mundo, compreendendo que mesmo este sonho não une todas as pessoas que por ventura ou desventura não o comungam! Provocando ódio pelo conflito de idéias, interesses e objetivos de vida...
Divergir culturalmente, racialmente, religiosamente, esteticamente, geograficamente e etc...
E saber que nem todo mundo sensibiliza-se com a dor alheia, posto que há muitas pedras na areia para que sejam removidas todas dos caminhos de todos...
Porque dizendo em versos:
Eu te amo e te odeio,
E me odeio porque te amo!
Assim como:
Eu te odeio e te amo,
E me amo porque te odeio!
Inveja:
“Ninguém nesta vida pode ser melhor do que eu” Dizia Narciso!
Não aceito qualquer superioridade alheia,
Difamarei, caluniarei e até agirei com maldade para vingar-me de quem me é superior!
Este é o rosário mais universal!
Este é o fel mais humano!
Indiferença:
Como ela é gorda, velha, disforme, horrenda, antipática e etc...
Um arquétipo antiestético sem graça e sem indicação de gozo para qualquer um...
Por ela não se sente atração, sente-se repulsa e rejeição...
Como este indivíduo é burro e inculto, um verdadeiro asno posto que só fala animalidades, só pensa em futilidades...
Por Deus, pelos céus, digam-me se existe igualdade entre os homens! Reconheço uma curva no que diz respeito aos QIs individuais.
Uns pensam enquanto outros são dementes!
Uns produzem conhecimento, outros produzem patifarias!
Uns provocam admiração e respeito enquanto, outros, no mínimo, a indiferença!
Uns amam a poesia, outros não!
Uns indignam-se, outros não!
Uns compreendem, outros não!
Admiração:
Seria capaz de morrer pelo teu beijo mulher, mesmo que só te tocasse uma vez e que se embora fosses estaria saciado.
Admiro-te pelo que ouço e vejo, mas a tua beleza física é o teu maior valor!
Admiro-te pelo ensejo do teu corpo harmonioso que provoca desejo e ambição por tocar-te.
Admiro-te, consumo-te e como-te com os olhos posto que te quero no campo visual e no ato sexual.
Admiro-te pelo que produzes intelectualmente: poesias, músicas, livros, filmes, óperas, prosas, ciências, sabedorias, ensinamentos provando do gozo de participar do que nos é intelectual.
Desprezo:
Desprezamos verdadeiramente o que nos é indiferente!
Gozo:
Poderia morrer amor depois de gozar dentro de ti, instintivamente desejando uma nova prole, parte do meu afeto e admiração por ti.
Preciso descrever hora o indescritível, preciso legar em palavras o que nos é mais sensível.
Só sei que tremo e sinto um êxtase de sabor intenso, num momento completamente animal, irracional, emocional, límbico, amoroso, caloroso e de prazer bela diva.
Quero gozar contigo e sei que, nest’hora; posso morrer completamente realizado.
Sadismo:
Faço-te sofrer e gozo, este é o meu lado animal, de destruir tudo o que poço, de provar minha superioridade infernal.
É narcisismo mesmo, ai como me admiro, sou mais eu do que qualquer um e preciso sentir o prazer de fazer outro animal sofrer. Sentir dor e mutilação; sentir-se inferior a mim, um superior cristão.
Masoquismo:
Sou pecador, sou indigno, por isso quero sofrer, quero a mágoa!
Que os teus olhos me provocam, tu que nutres as minhas frágoas!
E eu o que mereço senão porradas, nestes meus complexos de culpa e castração!
Eu que sou indigno de Deus preciso sempre de perdão!
Felicidade:
“Uma casinha na colina para amar!”.
Todas as mulheres do mundo, que desejar e que me deseje. Isto para mim e não mais ninguém!
Segundo Freud é conseguir o seu objeto de desejo e posteriormente desejar outro e conseguir e desejar outro e conseguir até morrer.
Para uns basta não sofrer, como se isso fosse possível!
Para muitos e muitos, é simplesmente não passar fome e não ver os seus filhos morrerem de fome e inanição.
É ter uma mesa, um pão, um teto e estes são apenas os objetos de desejo das multidões de miseráveis que habitam esta vastidão desoladora, impiedosa, natural e avassaladora chamada Terra.
Autor: Eduardo Gomes Data: 29/04/2004
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