Poesias

FERNANDO PESSOA       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

O meu olhar é nítido como um girassol.

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás.

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem.

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras.

Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo.

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar.

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa

Autor: Eduardo Gomes
Data: 06/04/2020

 

Categorias Poéticas:


Eduardo Gomes          Tel.: 55 - 71 - 98148.6350     Email: ebgomes11@hotmail.com | Desenvolvido pela Loup Brasil.