Poesias

GILKA MACHADO       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

Possa eu, da phrase nos absonos sons

Possa eu, da phrase nos absonos sons,
em versos minuciosos ou succintos,
expressar-me, dizer dos meus instinctos,
sejam elles, embora, máos ou bons.
 
Quero me vêr no verso, intimamente,
em sensações de gôso ou de pezar,
pois, occultar aqui’lo que se sente,
é o proprio sentimento condemnar.
 
Que do meu sonho o bronco véo se esgarce
e mostre núa, totalmente núa,
na plena graça da simpleza sua,
minha Emoção, sem peias, sem disfarce.
 
Quero a arte livre em sua contextura,
que na arte, embora peccadora, a Idéa,
deve julgada ser como Phrinéa:
- na pureza triumphal da formosura.
 
Gelar minha alma de paixões accêsa
porque? si desta forma ao Mundo vim;
si adoro filialmente a Natureza
e a Natureza é que me fez assim.
 
Meu ser interno, tumultuoso, vario,
- máo grado o parvo olhar profanador –
no livro exponho como num mostruario:
sempre a verdade é digna de louvor.
 
Fiquem no verso, pois, eternamente,
as minhas sensações gravadas, vivas,
nas longas crises, nas alternativas
desta minha alma doente.
 
Relatando o pezar, relatando o prazer,
través a agitação, través a calma,
a estrophe deve tão somente ser
o diagnostico da alma.

- Gilka Machado, in "Estados da alma: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)-

Autor: Eduardo Gomes
Data: 21/02/2020

 

Categorias Poéticas:


Eduardo Gomes          Tel.: 55 - 71 - 98148.6350     Email: ebgomes11@hotmail.com | Desenvolvido pela Loup Brasil.