Volúpia
Tenho-te, do meu sangue alongada nos veios;
á tua sensação me alheio a todo o ambiente;
os meus versos estão completamente cheios
do teu veneno forte, invencível e fluente.
Por te trazer em mim, adquiri-os, tomei-os,
o teu modo subtil, o teu gesto indolente.
Por te trazer em mim moldei-me aos teus colleios,
minha intima, nervosa e rubida serpente.
Teu veneno lethal torna-me os olhos baços,
e a alma pura que trago e que te repudia,
inutilmente anceia esquivar-me aos teus laços.
Teu veneno lethal torna-me o corpo langue,
numa circulação longa, lenta, macia,
a subir e a descer, no curso do meu sangue.
- Gilka Machado, in "Estados da alma: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)-
Autor: Eduardo Gomes Data: 21/02/2020
|