Rosas
I
Cabe a supremacia á rosa, entre o complexo
das flôres, pelo viço e pela pompa sua,
e o arôma que ella traz sempre á corolla annexo
o coração humano excita, enleva, estua.
Quando essa flôr se ostenta á luz tibia da Lua,
o luar busca enlaçal-a, amoroso, perplexo,
e ella sonha, estremece, oscilla, ri, fluctua
e desmaia, ao sentir esse etheral amplexo.
Si é rosea lembra carne ardente, palpitante...
nívea – lembra pureza e nada ha que a supplante,
rubra – de certa bocca os labios nella vejo.
Seja qualquer a côr, por sobre o hastil de cada
rosa, vive a Mulher, nos jardins flôr tornada:
- symbolo da Volupia a excitar o Desejo.
II
Rosas cujo perfume, em noutes enluaradas,
é um sortilegio ethereo a transpôr as rechans;
rosas que á noute sois risonhas, floreas fadas,
de cutis de velludo e tenras carnes sans.
Sejaes da côr do luar ou côr das alvoradas,
rosas, sois no perfume e na alegria irmans,
e todas pareceis, á luz desabotoadas,
a concretisação dos risos das Manhans!
Ó rosas de carmim! Ó rosas roseas e alvas!
ha nesse vosso odôr toda a maciez das malvas,
a púbere maciez do pêcego em sazão.
Dae que eu possa gosar, ao vosso collo rente,
esse perfume, a um tempo excitante e emolliente,
numa dubia, sensual e suave sensação!
- Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)
Autor: Eduardo Gomes Data: 21/02/2020
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