Noturno I
Apraz-me sempre ouvir, ás horas vespertinas,
os prelúdios da Noute, os iriantes rumores
que, mal rolam da sombra as primeiras cortinas,
fazem soar pelo espaço os Arrebóes, as Cores.
Ha na violacea cor violinos em surdinas,
vibram no ouro clarins ruidosos e aggressores,
gemem flautas no verde, em notas tiples, finas,
rufam dentro do rubro invisíveis tambores.
Soam na rosea côr accordes flebeis de harpas,
través o alaranjado ha guitarras chilrando,
e os sons rolando vão nas ethereas escarpas...
Ha uma breve fermata e, após, exul, tristonho,
soluça um orgam do alto, em som pauzado, brando,
dentro do azul do céo, como um sonoro sonho.
- Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)
Autor: Eduardo Gomes Data: 20/02/2020
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