Olhos pérfidos
Olhos da triste côr dos ambientes mortuarios,
onde paira uma luz de cirio a tremular;
eu um dia suppuz que fosseis dous alvearios,
porque havia um sabor de mel no vosso olhar.
Como no espelho arcoal de pútridos aquários
á noute se reflecte o fulgor estellar,
a vossa podridão, olhos fataes e vários,
vem, ás vezes, um lume estranho illuminar.
Vejo, si em vosso todo acaso o olhar afundo,
que, em vós, como no horror de um lodaçal immundo,
geram-se occultamente os micróbios de um mal.
£ eu, que buscava abrigo á alma desilludida,
toda me untei de lodo, infeccionando a vida,
ao contagio da vossa emanação lethal!
- Gilka Machado, in "Crystaes Partidos: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)
Autor: Eduardo Gomes Data: 20/02/2020
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