PEQUENA ANÁLISE DO MOMENTO ( Le Monde Diplomatique Brasil )
1 - O foco do poder está na economia, não na política. Quem dita as regras é o Conglomerado Financeiro-Empresarial (CFE) com dimensões globais e raízes locais de conformações específicas.
2 - Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas marionetes dos verdadeiros donos do poder.
3 - O real exercício do poder tem mãos invisíveis. O que se vê, de fato, é um constructo muito bem arquitetado de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade, para criar a sensação de participação consciente dos cidadãos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.
4 - Os grandes meios de comunicação não se equivalem mais à tradicional “imprensa” (instituições autônomas, cujo objeto é a notícia, e que podem ser independentes ou, compradas e cooptadas por interesses). São parte de grandes corporações econômicas que também compõem o CFE (o qual comanda esse poder invisível). Logo, realizam o exercício invisível do poder utilizando seus recursos de 'formação de consciência e opinião' (entretenimento, manipulação e lavagem cerebral).
5 - O CFE não apoia partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes causa percalços e prejuízos. Isso muda de acordo com a conjuntura. O CFE (dono do poder) não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.
6 - O CFE pode apostar em Lula, ou em um político do PSDB, ou em Temer, ou em um aventureiro qualquer. E pode destruir qualquer um de acordo com sua conveniência.
7 - Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo (uma das responsabilidades da mídia corporativa), ora demoniza Lula e Dilma, e logo depois Temer e Bolsonaro. Tudo faz parte de um tabuleiro estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e subjetivas da conjuntura.
8 - O CFE tem uma ideologia 'liberal-financista' (baseada na filosofia de Ayn Rand - Objetivismo) mas não tem opção partidária, não carrega nenhuma bandeira na política, e só defende pessoas que vistam a sua camisa. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis à suas metas de maximização dos lucros.
9 - Assim, o CFE quer um governo que siga sua cartilha: faça a reforma na previdência e nas leis trabalhistas, congele o orçamento primário, corte gastos sociais para o serviço da dívida, faça privatizações e alivie os tributos para os mais ricos, ou seja, tudo para uma maior rentabilidade.
10 - Se a conjuntura indicar que Bolsonaro não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o brasileiro decida sobre o destino do próprio país.
11 - Assim, cada notícia é um lance do jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do CFE (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira estratégica.
12 - A derrocada de Bolsonaqro pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem, efetivamente, comanda o poder. O que realmente importa é o que virá depois (lucro ou prejuízo).
13 - Vale lembrar: eles são mais espertos. Por isso estão no poder.
(Baseado no Le Monde Diplomatique Brasil)
Autor: Eduardo Gomes Data: 29/12/2019
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