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Racionalidade e Política (Riis R. Assis Bachega)

Diante da crescente onda de irracionalidades motivadas por questões políticas, é importante divulgar ferramentas para que essas questões, tão importantes para todos, sejam discutidas de maneira racional e objetiva.

É preciso expor alguns dos motivos que impulsionam a polarização de opiniões e a onda de fanatismo. 
# O viés de confirmação:
- A maioria tende a procurar informações condizentes com suas crenças e presta atenção apenas nos fatos que confirmem essas crenças. Essa tendência é conhecida como 'viés de confirmação', um tipo de viés cognitivo. O viés de confirmação é a principal origem das crenças supersticiosas, e também, da polarização ideológica.
# Bolhas ideológicas:
- Consequente ao viés de confirmação, formam-se as 'bolhas ideológicas'. É natural se agrupar com outras pessoas com gostos e opiniões parecidas. O problema é quando a pessoa limita seu círculo de relações somente com quem pensa parecido com ela. A pessoa tende a seguir apenas as mídias e os formadores de opinião com os quais já concorda (pessoas de esquerda tendem a seguir publicações de esquerda; as de direita, as publicações de direita), formando séquitos. As consequências são a polarização de opiniões, o fanatismo e a intolerância.
A internet trouxe uma oportunidade ímpar, como nunca houve na história, de se ter acesso a informação e conviver com pessoas/grupos de variadas orientações de pensamento, em um ambiente múltiplo necessário para se exercer o livre pensamento, fazendo emergir um mundo plural. No entanto, o contrário ocorreu. As pessoas limitaram sua lista de contatos em redes sociais somente àqueles que pensam de forma parecida. Viu-se muito disso nas últimas eleições, em que amizades foram desfeitas entre pessoas que apoiavam candidatos diferentes. Consumir notícias que confirmem suas ideias de mundo é fácil e prazeroso; consumir informações que desafiem a pensar diferentemente ou questionar as presunções é difícil e gera frustração. Como consequência as opiniões tendem a ficar mais polarizadas e os usuários mais extremistas.
# Ignorância racional e irracionalidade racional:
- O termo 'ignorância racional' vem da teoria econômica da escolha pública. Refere-se ao fato de que, muitas vezes, os custos de se obter informações para embasar uma decisão excedem os ganhos. Por exemplo, no caso de eleições, o custo para um eleitor pesquisar cada candidato excede em muito o ganho individual, já que o voto individual dificilmente mudará o resultado eleitoral. Por isso que os políticos com visibilidade e reputação (mesmo que má) acabam se elegendo, pois é mais cômodo para o eleitor votar em quem já conhece (mesmo sabendo que é um patife) do que pesquisar novos nomes.
Já o termo 'irracionalidade racional' se refere ao fato de que a pessoa pensa irracionalmente por que é de 'seu interesse pensar assim'. Esse conceito advém da distinção entre dois tipos de racionalidade: a 'racionalidade instrumental' (o que preciso fazer para atingir um objetivo) e a 'racionalidade epistêmica' (pensar de modo logicamente consistente e com boas evidências empíricas). Resumindo: 'se para alcançar um objetivo, eu devo pensar de maneira ilógica, então pensarei de maneira ilógica'.
# O debate político é dominado por ideólogos:
- Muitos influenciadores são ideólogos (têm compromisso com um projeto político/ideológico, não com os fatos). Para eles só tem relevância o que se encaixa na sua concepção ideológica de mundo, ou que seja útil para o seu projeto. Os que não se enquadram (ou não são cooptados por sofismas) são ignorados. O ideólogo também relativiza os valores: bem e mau, certo ou errado, verdade ou mentira, depende de quem faz ou age. Isso não significa que não haja estudiosos sérios sobre política, mas o alcance deles é muito reduzido. Para a maioria (via conceitos da ignorância racional e irracionalidade racional), é mais fácil consumir análises rasas e terceirizar o pensamento. Assim, os ideólogos reúnem um verdadeiro séquito em torno de si, e insufla sentimentos antagônicos, partindo para a total desumanização do adversário.
O objetivo do ideólogo é ficar em evidência para atingir o maior número de pessoas. Por isso, ele não se preocupa com a consistência lógica e compatibilidade com os fatos da mensagem que divulga, já que ele sabe possuir um séquito que irá aceitar, a priori, tudo o que ele diz. 
Quem mais perde com essa polarização são os que assumem posições mais moderadas, pois recebem ataques dos extremistas dos dois lados. A racionalidade leva à moderação, a entender que não existem respostas finais e soluções fechadas para a maioria dos problemas. Quem tende a uma posição mais de centro, acaba sendo criticado e condenado pelos extremistas.

Como debater racionalmente?
# Sair das 'bolhas ideológicas':
- Limitar os contatos somente àqueles que pensam de modo semelhante, e seguir formadores de opinião, com os quais costuma concordar, reforça o viés de confirmação. Quem se isola nessas bolhas, nunca terá oportunidade de confrontar as opiniões e assim, não saberá quão boa elas podem ser.
Sair das bolhas também é importante para se perceber que quem pensa diferentemente não é, necessariamente, algum monstro, ou algum imbecil. Entender as razões que levam a pensar daquela maneira, mesmo que não se concorde, é importante para não desumanizar o adversário. 
# Procurar por diversas fontes de informação:
- Em política, é preciso ser realista e saber que não existem veículos de informação isentos. Os interesses envolvidos são muitos, e os veículos sempre favorecerão um lado e comprometerão o outro, de modo tendencioso e mentiroso, sem se preocupar com a coerência dos argumentos, apenas em defender um discurso ideológico (econômico).
O que fazer então? 
O volume de informações é imenso e é quase impossível conferir a veracidade de todas. Recomenda-se acompanhar veículos de variadas orientações pois, já que todos tem um lado, vale reconhecer o que é mais coerente em relação aos fatos. Se um veículo, apesar de sua orientação ideológica, é coerente em seus argumentos, isso mostra que é confiável.
# Admitir a própria ignorância:
- Frequentemente, as pessoas são intimados a se posicionar pelos extremistas, e quem prefere manter a cautela é logo rotulado de 'isentão' (a ignorância pode ser uma bênção!). Muitas questões debatidas (como previdência) exigem conhecimentos especializados de direito, sociologia, história, economia, ciência política, etc. É melhor ser 'isentão' e admitir que não tem competência de julgar certas coisas para formar uma opinião embasada do que repetir clichês ideológicos prontos e seguir a manada do pensamento único.
# Estar disposto a mudar de opinião: 
- Não há problema em defender causas políticas e sociais. Mas não se deve deixar cegar pelas ideologias de preferência e permanecer alheio aos fatos. Formar opinião com base em certas informações, e ao se deparar com uma informação nova, mudar de opinião é algo louvável. Denota humildade e respeito às evidências.
É preciso, também, ser crítico em relação às informações que se recebe, independentemente de elas se alinharem ou não ao que se acredita. Não é porque saiu uma denúncia acerca de um político que não se gosta que a denúncia seja real, assim como se sair uma denúncia em relação a um político que se apoia, que ela seja falsa. É sempre bom conferir a veracidade da informação, independentemente se ela agrada ou não. Uma boa dose de ceticismo é sempre bem vinda.
Quando se depara com um texto argumentando uma posição contrária àquela que se defende, antes de procurar furos na argumentação e ensaiar uma 'refutação' procure entender os argumentos apresentados no texto, eles podem ser bons e levar a se aprender algo novo com eles! Ou eles podem ser ruins fazendo com que se fique mais seguro de suas crenças. Das duas formas, sempre há um ganho.

Todos ganham com o debate racional, e todos perdem com a polarização. O debate não visa humilhar e refutar aqueles com posição diferente, mas sim chegar a um esclarecimento mútuo e solucionar problemas que afetam a todos. 
Em geral, nos debates extremistas, os que se atacam saem da ignorância rasa para um estado de burrice profunda, de maior ignorância. Para a evolução democrática, é necessário um ambiente de livre pensamento, com respeito a quem pensa diferentemente e valorização racional epistêmica (consistência lógica e respeito às evidências empíricas). 
Bertrand Russel dizia: 'quem sente raiva de alguém com uma opinião diferente da sua, é porque, provavelmente, sua opinião não é bem fundamentada'.

 

(Baseado em Riis R. Assis Bachega)

Autor: Eduardo Gomes
Data: 28/03/2019

 

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