Poesias

TEXTOS D TERCEIROS 02       Voltar   Imprimir   Enviar   Email

Motivos que aumentaram o ódio ao PT (Leonardo Boff)

Há um fato espantoso, mas analiticamente explicável, com relação ao aumento do ódio contra o PT. Esse fato vem revelar o outro lado da 'cordialidade' do brasileiro, proposta por Sérgio Buarque de Holanda: do mesmo coração que nasce a acolhida calorosa, vem também a rejeição mais violenta. Ambas são 'cordiais': as duas caras passionais do brasileiro.

Esse ódio é induzido pela grande mídia que não respeita o rito democrático: ou se ganha ou se perde. Quem perde deveria reconhecer, elegantemente, a derrota, e quem ganha, mostrar magnanimidade frente ao derrotado. Mas esse comportamento civilizado não triunfou. 

 

Para entender, vale consultar o historiador José Honório Rodrigues, que em sua obra 'Conciliação e Reforma no Brasil' diz com palavras que parecem atuais: 'Os liberais no império, derrotados nas urnas e afastados do poder, foram se tornando além de indignados, intolerantes; construíram uma concepção conspiratória da história que considerava indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso inesperado e imprevisto de suas forças minoritárias'.

 


Esses 'liberais' prolongam as velhas elites que, do Brasil Colônia até hoje, nunca mudaram seu ethos. Segundo o referido autor: 'a maioria foi sempre alienada, antinacional e retrógrada; nunca se reconciliou com o povo; negou seus direitos, arrasou suas vidas e logo que o viu crescer lhe negou, pouco a pouco, a aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence'. Hoje as elites econômicas abominam o povo. Só o aceitam fantasiado no carnaval.

 


Lamentavelmente, não lhes ocorre que 'as maiores construções são fruto popular: a mestiçagem racial, que criou um tipo adaptado ao país; a mestiçagem cultural que criou uma síntese nova; a tolerância racial que evitou os descaminhos; a tolerância religiosa que impediu/dificultou as perseguições da Inquisição; a expansão territorial, obra de caboclos e mamelucos; a integração social pelo desrespeito aos preconceitos e pela criação do sentimento de solidariedade; a integridade territorial; a unidade de língua e finalmente a opulência e a riqueza do Brasil que são fruto do trabalho do povo. E o que fez a liderança colonial (e posterior)? Não deu ao povo sequer os benefícios da saúde e da educação'.

 


Estas citações reforçam um fato histórico inegável: com o PT, os que eram considerados 'carvão' no processo produtivo, a escória social, conseguiram, penosamente, se organizar como poder social que se transformou em poder político no PT e, assim, conquistar o Estado. Apearam do poder boa parte das classes dominantes; não ocorreu simplesmente uma alternância de poder mas uma troca de classe social, base para um outro tipo de política. Tal saga equivale a uma autêntica revolução social.

 


Isso é intolerável pelas classes poderosas que se acostumaram a fazer do Estado o seu 'lugar natural' (julgam seu por direito) e de se apropriar privadamente dos bens públicos pelo famoso patrimonialismo.
Seguramente, começam a dar-se conta de que, talvez, nunca mais terão condições históricas de refazer seu projeto de dominação. Outro tipo de história política dará, finalmente, um destino diferente ao Brasil.

 


Para eles, o caminho do voto se tornou inseguro pela maior capacidade crítica alcançada por amplos estratos do povo. O caminho militar seria impossível dado o novo quadro mundial. Cogitam, também, com a esdrúxula possibilidade da judicialização da política, contando com aliados na Corte Suprema que nutrem semelhante ódio ao PT e sentem o mesmo desdém pelo povo.

 


O ódio ao PT é menos contra PT e mais contra o povo pobre que, por causa do PT e de suas políticas sociais de inclusão, foi tirado do inferno da pobreza e da fome e está ocupando os lugares antes reservados às elites abastadas. Estas pensam em apenas fazer caridade, doar coisas (para aliviar suas culpas), mas nunca fazer justiça social.

 


Felizmente, nas bases e em muitos municípios vive-se um outro modo de fazer política, com participação popular, mostrando que um sonho tão generoso não se mata assim tão facilmente: o de um Brasil menos perverso. As classes dirigentes, por 500 anos, no dizer rude de Capistrano de Abreu, 'castraram e recastraram, caparam e recaparam' o povo brasileiro. Há maior corrupção histórica do que esta? 

 


(Texto Baseado em Leonardo Boff)

Autor: Eduardo Gomes
Data: 07/03/2019

 

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