Antropofagia ( Stéphen Dédalus )
Tenho fome. Dói saber que sou faminto. Queria te comer, tê-la nua e indefesa em uma enorme bandeja de prata. Devorar cada parte tua com um prazer primitivo que só nós, pagãos inocentes, conhecemos.
Tenho fome, queria comê-la, lambê-la antes de morder. Estaria saciado ao retê-la dentro de mim, circulando em minhas veias, nutrindo meu coração com um lirismo que só nós, ciganos errantes, sabemos.
Tenho fome, queria possuí-la sedenta para ser devorada. Sangue pulsando, órbitas dilatadas, mamilos rijos.
Deleite que só nós, deuses decadentes, ousamos provar. Que parte me causaria mais prazer? As partes tenras: nádegas, seios, língua? As partes molhadas: olhos, boca, genitália? Quem sabe não seriam os músculos, os tendões...
Teus olhos grandes sobre mim. Teus grandes lábios carnudos, teus grandes lábios carmins. Teus grandes olhos de presa abatida, o antegozo da dor, prelúdio da mordida.
Tenho fome, queria derramar-me. Queria estar dentro de ti.
Poema de Stéphen Dédalus.
Autor: Eduardo Gomes Data: 18/10/2005
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