A Flor e a Fonte ( Vicente de Carvalho )
"Deixa-me, fonte!" Dizia A flor, tonta de terror. E a fonte, sonora e fria Cantava, levando a flor.
"Deixa-me, deixa-me, fonte!" Dizia a flor a chorar: "Eu fui nascida no monte... "Não me leves para o mar."
E a fonte, rápida e fria, Com um sussurro zombador, Por sobre a areia corria, Corria levando a flor.
"Ai, balanços do meu galho, "Balanços do berço meu; "Ai, claras gotas de orvalho "Caídas do azul do céu!..."
Chorava a flor, e gemia, Branca, branca de terror. E a fonte, sonora e fria, Rolava, levando a flor.
"Adeus, sombra das ramadas, "Cantigas do rouxinol; "Ai, festa das madrugadas, "Doçuras do pôr-do-sol;
"Carícias das brisas leves "Que abrem rasgões de luar... "Fonte, fonte, não me leves, "Não me leves para o mar!"
As correntezas da vida E os restos do meu amor Resvalam numa descida Como a da fonte e da flor...
Poesia de Vicente de Carvalho
Autor: Eduardo Gomes Data: 18/10/2005
|