O poeta pede a seu amor que lhe escreva ( Garcia Lorca )
O poeta pede a seu amor que lhe escreva.
Amor de minhas entranhas, morte viva, em vão espero tua palavra escrita e penso, com a flor que se murcha, que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte nem conhece a sombra nem a evita. Coração interior não necessita o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias, tigre e pomba, sobre tua cintura em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura ou deixa-me viver em minha serena noite da alma para sempre escura. Se as minhas mãos pudessem desfolhar
Eu pronuncio teu nome nas noites escuras, quando vêm os astros beber na lua e dormem nas ramagens das frondes ocultas.
E eu me sinto oco de paixão e de música. Louco relógio que canta mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome, nesta noite escura, e teu nome me soa mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então alguma vez? Que culpa tem meu coração? Se a névoa se esfuma, que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura? Se meus dedos pudessem desfolhar a lua!! Poesia de Garcia Lorca.
Autor: Eduardo Gomes Data: 14/10/2005
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