Espelho ( Sylvia Plath )
Sou prata e exato. Eu não prejulgo. O que vejo engulo de imediato Tal qual é, sem me embaraçar de amor ou desgosto. Não sou cruel, tão somente veraz – O olho de um deusinho, de quatro cantos. O tempo todo reflito sobre a parede em frente. É rosa, com manchas. Fitei-a tanto Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila. Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim, Buscando em domínios meus o que realmente é. Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua. Vejo suas costas e as reflito fielmente. Ela me pega em choro e agitação de mãos. Sou importante para ela. Ela vai e vem. A cada manhã sua face reveza com a escuridão. Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
Poema de Sylvia Plath, início do século XX
Autor: Eduardo Gomes Data: 27/09/2005
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