7. Seu trabalho atualiza conceitos marxistas. Ainda podemos falar em luta de classes num mundo onde o operariado fabril decresce e minorias raciais e sexuais lideram movimentos sociais?

Luta de classes sempre foi um conceito que precisou ser entendido em suas muitas nuances. É importante reconhecer que as lutas anticapitalistas se articulam de diversas maneiras. Nos EUA, o operariado desapareceu, e as lutas sociais ocorrem menos nos locais de trabalho e mais nas cidades. Na China, por outro lado, há luta de classes no sentido clássico, existe um proletariado em ação. É um momento que terá efeitos maciços e ramificações globais — inclusive para o Brasil. A desaceleração do crescimento chinês, por causa da dinâmica da luta de classes, vai afetar vocês. No que se refere às lutas identitárias, muitas estão ligadas a sensibilidades anticapitalistas. O Black Lives Matter, assim como Malcolm X (militante na luta contra o racismo nos EUA na década de 60) e Martin Luther King (maior líder do movimento dos direiros civis dos negros nos EUA) , reconhece que luta racial também é luta de classes — o que, nos EUA, é perigoso. Outros movimentos identitários, como o #MeToo (contra o assédio e a violência sexual) , não têm essa dimensão classista. Muitas feministas afirmam que também é preciso abordar e entender a situação da mulher na sociedade por uma perspectiva de classe. A maioria das lutas sociais pode ter um conteúdo anticapitalista. A perspectiva anticapitalista é mais ampla do que a perspectiva do proletariado fabril, que prevaleceu em algumas organizações políticas de esquerda.